Quando era miúdo delirava com o fogo. Acender o lume nas lareiras das casas dos meus avós era um vício, que levava ao clássico comentário do "...xixi na cama....".
Na altura gostava muito de ver os diferentes materiais a arder, de diferentes formas, a libertar odores e cores diferentes. Ainda hoje há algo de mistico em observar o fogo, para mim.
Não, não ando ou tenho tendências piromanas, so que no outro dia numa das minhas infindáveis viagens a solo, me lembrei de um detalhe, de tão inusual passatempo, como é observar o fogo.
Há diferentes tipos de materiais, e como eu disse de maneira distinta reagem ao fogo e ao calor. O caso da madeira é clássico. O pinho e o eucalipto tão massificados ardem com uma espetacularidade única. A chama é viva, muito quente logo de início e libertam-se cores e cheiros fortes. O pinho então como madeira resinosa que é, é uma mistura de cheiro e de uma facilidade de inflamação impressionante. Mas com a velocidade como se inicia assim termina, sem deixar rasto ou vestígio.
Estas são as madeiras hoje em dia que estão em voga. Crescem mais depressa que todas as outras, permitem o corte com menos tempo de vida, adaptam-se melhor ao ritmo do nosso dia a dia. E ardem da mesma forma, intensa e muito rápida.
Depois há as madeiras nobres, outras madeiras como o carvalho por exemplo, que na sua maior parte são de arvores autoctones dos diferentes países. São arvores que demoram a crescer, necessitam cuidados, muitas delas que produzem frutos. Quando se usam para o lume, ardem de uma forma completamente distinta. Custa a começar, exigem trabalho, uma pinha, uma acendalha, algum papel e alguma dose de paciência.
Resistem ao fogo assim como resistiram à passagem do tempo, mesmo depois de talhadas e recortadas para o lume.
Quando finalmente começam a arder, o efeito é menos espetacular, os cheiros são mais suaves, a chama é menos luminosa, mas a duração.... O fogo que as consome, é também ele consumido por elas, produzindo o melhor carvão... que pode ainda ser novamente utilizado. O calor dura horas e horas, acompanha as noites frias, leva os cozinhados até ao ponto, fumega ja o dia nasceu hà horas...
Estas são também as madeiras esquecidas, aquelas que poucos hoje vêm necessidade em plantar, as que não dão resultados imediatos.
Tenho muita pena. Sempre as preferi. O fogo como todos os elementos e os extremos do nosso planeta mostra-nos a verdade e a fragilidade da nossa natureza.
Tenho saudades de observar o lume....
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